sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Alguém Especial


Essas poucas linhas não serão suficientes para expressar meu amor e saudades, mas mesmo assim, tentarei homenagear uma pessoa muito especial. Somente lembrar o timbre da sua voz e o brilho dos seus olhos me faz despertar de um pesadelo que levo permanentemente.
Sua jovialidade, sua fome de viver, seus talentos e seu jeito cúmplice e companheiro, me levam a recordar todos os bons momentos vividos juntos. Não existiam obstáculos que o derrubassem, tempestade que o atingisse e nem sonhos impossíveis. Todo o dia era dia de festa ao seu lado. Lembro das brincadeiras, piadas, recordo do seu rosto, do modo de se vestir, dos conselhos que me dava, e até mesmo das brigas típicas.
Se eu pudesse encontrar novamente essa pessoa, lhe diria que ela é o chão que falta aos meus pés, o céu em que brilha meu sol e minha lua e a água que sacia minha sede. Sede de querer ver seu sorriso novamente, sua presença nas festas familiares e dizer o quanto sinto sua falta. Uma falta que tira o meu sono, mata minhas esperanças e abala minha fé. Saber que seu sorriso não mais verei me perturba, me entristece.
Tudo que lhe pertencia continua como estava, até mesmo seu carro continua intocável na garagem. Nos seus Cd’s encontrei uns meus, que não houve tempo de serem devolvidos, mas os deixei no mesmo lugar como você os havia deixado. Seus retratos espalhados pela casa me transportam para um passado que jamais queria ter perdido. Sua lembrança em minha memória será eterna e a certeza de um distante futuro reencontro amadurece em meus pensamentos. Entendi, ao longo desses quase três anos, que não perder quem se ama é seguir em frente, mesmo com o coração desolado. A violência pode arrancar uma parte imensa de nós, mutilando-nos, mas não rouba o amor que nos uniu e fez parte de nossa história.
Posso sentir que você lê o que escrevo. Meu amor faz chegar até você minhas singelas palavras. Seu sorriso se perpetua nos meigos olhos de seus filhos, suas sementes deixadas nessa vida. Duas crianças lindas, que a cada dia assemelham-se mais a você. Filhos inocentemente saudosos, que até hoje não entendem para onde o “papai viajou”. Passaste pela nossa vida não em vão. Tua missão foi cumprida, mesmo que interrompida. Precocemente te tornaste um homem de bem, um pai de família. E precocemente nos deixaste. Meu inesquecível irmão, meu companheiro da infância até a vida adulta, meu cúmplice nas farras e bagunças, meu fiel amigo, meu anjo da guarda, te perdendo eu também me perdi. E como diz aquela música sobre perda de pares: “Avião sem asa, fogueira sem brasa, futebol sem bola, Piu-Piu sem Frajola...” Eu colocaria também: Andreia sem André. Porque hoje eu também sou assim, sem ter você.


Texto em homenagem a André Flores de Souza, que no auge de seus 23 anos de idade perdeu a vida de forma trágica, vítima da violência que a cada dia ceifa mais vidas. Violência que só existe por causa de pessoas irresponsáveis que em troca de coisas materiais tiram a vida alheia, preciosidade de perda irreversível, ao contrário de bens materiais. André deixou esposa e dois filhos: Gabriel, que tinha 5 anos e Lucas de 11 meses. Dia 18 de abril de 2005 foi o dia que metade do meu coração se foi com meu irmão.


Andreia Flores


"Nas asas do tempo, a tristeza voa."

Jean de La Fontaine

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