quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Contos na infância

Meus pais e avós sempre nos contavam aquelas lendas que circulavam na família de geração a geração. Eram sempre histórias aterrorizantes para, certamente, assustar as crianças da casa. Ficávamos horas ouvindo os causos.
Esses contos eram sempre adaptados para serem mais assustadores do que realmente eram e com no mínimo um personagem que era membro da família. Dentre Lobisomens, Mulas-sem-cabeça e muitas outras, a que mais nos apavorava era a do Boitatá. Meu pai sempre se empolgava, gesticulando muito, na parte da enorme bola de fogo amarelo que corria rapidamente por entre as casas onde havia crianças arteiras. Lembro do pavor que eu e o meu irmão tínhamos, o que contribuiu para algumas traquinagens terem ficado apenas no pensamento.
No cair da noite, qualquer luz ao longe era sinal do Boitatá se aproximando. Teve uma vez que ao vermos um avião no céu, identificamos apenas uma pequena luz distante rasgando a escuridão, entramos em pânico total. Aos berros, gritávamos desesperados que era injusto o Boitatá vir do céu para nos pegar, já que não havíamos teimado naquele dia.
Então meu pai falou que ele avistado do céu, somente vigiava para ver se tudo estava certo: se todas as crianças tinham feito a lição-de-casa, tomado banho, escovado os dentes e lavado a louça. Imediatamente eu e meu irmão pegamos um banquinho e subimos na altura da pia da cozinha para lavarmos toda a louça do jantar. Não queríamos correr o risco de vê-lo voando por ali novamente.

Andreia Flores

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